segunda-feira, 28 de julho de 2014

Ericksoniando um pouco... Túnel do tempo...

09/01/2000

Em 2001 participei de um curso fechado com Jeffrey Zeig no Instituto Milton Erickson de Belo Horizonte. O que vão ler abaixo é a transcrição do primeiro esboço da aula que ministrei neste curso e que fez grande diferença em minha vida. Éramos 10 participantes: Angela Cota, José Augusto Mendonça, Lilian Zeig, Jairo Mancilla, acho que Sofia Bauer e outros. Era um curso que nos dava um certificado para dar aulas, fazer supervisão, algo assim...

Esboço primeira aula que dei para certificação com Jeffrey Zeig:

Bom dia a todos! :)
 
Eu sou Keli Soares, todas já sabem, eu sou formada em psicologia há 5 anos e trabalho em meu consultório e há um ano e meio experiencio a hipnose em minha vida e em meu trabalho, o que tem sido muito importante para mim. Quando o Zeig falou sobre a oportunidade de falarmos durante vinte minutos sobre um tema aqui na frente, eu pensei: Eu vou falar porque esta é uma grande oportunidade. Vou falar porque eu pretendo dar aulas da abordagem para profissionais, porque eu gosto de aprender com as pessoas, porque estou aqui para aprender. Eu vou falar porque este é um curso fechado que reúne os melhores especialistas da área aqui no Brasil e tê-los ouvindo atentamente a minha voz a medida que vão pensando em como poderiam me ajudar a me tornar melhor é uma ideia que me fascina. Eu não posso perder esta oportunidade eu pensava e anotei meu nome no quadro onde estavam os nomes dos profissionais que iriam dar aula neste curso.
Neste dia, quando cheguei em casa e conversei comigo mesma: Nossa, você é louca, o que você vai falar com eles? Você nunca fez isto antes e percebi que meu coração estava disparado, batendo muito forte, um gelo no estômago e a respiração estava curta. Que fisiologia é esta?

MEDO

E vieram muitas perguntas à minha mente:

- Você acha que é boa o suficiente?
- Você não pensa que está sendo pretenciosa demais em dar esta aula para o Jeffrey Zeig e os outros 9 profissionais que estão fazendo o curso?
- Você já parou para pensar que talvez não seja realmente capaz de fazer isto bem?

E se eu fosse representar estes pensamentos com meu corpo eu faria assim:
(Braços agarradinhos no corpo, ombro encurvado para frente, junto com a coluna, cabeça voltada para baixo, joelhos flexionados, toda embotada).

Seria realmente ridículo, como vou dar uma aula com esta postura? 

Comecei pelo mais fácil, mudei a palavra para identificar a fisiologia... De MEDO para a CORAGEM, aquela sensação diante do novo, do arriscar... para fortalecer os músculos.... E me lembrei de Milton Erickson que utilizava as aprendizagens automáticas como o andar – era muito difícil aprender a andar –  desequilibrar para equilibrar... (Demonstro com meu corpo simulando o desequilibrar e o equilibrar do ato de caminhar  e a CORAGEM) E hoje estou andando e não preciso pensar paa fazer sito... E é o meu primeiro passo... E para andar 3000 km é preciso dar o primeiro passo, como disse Gandhi. É isto que estou fazendo aqui hoje... 

E o que vim falar para vocês?

São palavras...

O começo
 A semente                                                 O cimento
                                    Latente
                 Apalavranapontadalingua
                                              Inaudível
                                  Ímpar
          Grávida                           nula
                               Sem idade
           A enterradadeolhosabertos
Inocente                            promiscua
                     A palavra
Sem nome                            sem fala

(Octavio Paz tradução de Haroldo de Campos)

E o que eu gostaria de alcançar é que a medida que eu for compartilhando com vocês o meu crescimento, vocês possam experienciar o seu próprio crescimento de uma maneira confortável e prazerosa... E se destes momentos vocês puderem ficar com uma palavra significativa que os ajude a fazer aquelas mudanças que são tão boas para vocês... Eu já estarei sorrindo...
E antes de convidar vocês para entrar em transe embalados por minha voz, eu gostaria de contar uma história...

É a história de uma garota que tinha um sonho de viajar para lugares distantes e bonitos... Cheios de riquezas, daquelas riquezas que são impossíveis de serem roubadas. Ela sonhava muito, mas não sabia para onde queria ou deveria ir... Ela se sentia um pouco perdida e continuava procurando e como quem procura acha, um dia, já mulher, ela descobriu para onde ir... Ficou animada e começou a se preparar para a viagem... Comprou passagem, fez os planos da viagem, arrumou sua mala e foi... Ela sorria muito porque era um sonho se transformando em realidade... Tudo acontece primeiro no pensamento e depois pode se concretizar... Chegando ao seu destino, ela olhou para sua mala e viu que tinha levado muito pouco, sua mala estava praticamente vazia... Ela ficou desesperada... Meu Deus, o que estou fazendo aqui e agora? Eu não trouxe nada que eu precisava trazer, eu só trouxe o que eu tenho... Ficou olhando para o conteúdo da mala e pensava que era insuficiente, focando atenção nestes pensamentos, quase se arrependeu de ter sonhado... Mas aí, num momento lustral, ela acendeu uma luz... E deve ter sido mais ou menos parecido com o momento que o Zeig passou no McDonalds enquanto esperava o suco de laranja, falando com a balconista (Zeig havia contado esta experiência durante o curso). “Eu descobri o segredo da vida”; “Eu descobri o segredo da vida”; “Eu descobri o segredo da vida”... E ela olhou para a mala-  e viu que TINHA ESPAÇO – a mala vazia era uma vantagem naquele momento – Ela percebeu que tinha espaço e isto era suficiente, era o que precisava....

E eu posso colocar um pouco mais da poesia de Octavio Paz e Haroldo de Campos (Transblanco):
“Espaço é corpo, significado”

Eu convido vocês agora para viajar um pouquinho no espaço que é só seu, olhar para dentro... Ir se ajeitando de maneira confortável na cadeira, apoiando os pés no chão e as mãos no colo... E vocês podem respirar mais profundamente, olhando para dentro no seu espaço... de crescimento em contato com a sua respiração, com os seus pensamentos e talvez agora seja um bom momento para lembrar de pensar em viver este transe... Vivendo o pensar deste transe... E confortavelmente deixar estas palavras ir fazendo sentido... E vocês podem ouvir a minha voz, vocês podem perceber os barulhos ao redor, vocês podem se perceber sentados nesta sala e podem usufruir deste momento só seu... com as suas sensações...com os seus pensamentos... com a sua respiração...  E quando respiramos milhões de modificações acontecem no corpo... Algumas células nascem, outras se dividem, outras morrem e são substituídas por novas... Respiração é vida, é aprendizagem, modificação, crescimento ... E enquanto a sua mente consciente pode confortavelmente desfrutar deste movimento... A sua mente inconsciente pode usufruir desta aprendizagem... E você pode pensar em várias palavras... Talvez... 

... Como uma dança
...Felicidades, riquezas internas
... Confiança
... Alegria
... Coragem – paixão
... Mando e poderoso como um leão
... Saúde e independência
... Fortalecendo os músculos do poder deste transe
... Estando inteira, valorizando este transe
... Experienciando o amor incondicional, expandindo este transe...

E a medida que vocês confortavelmente experimentam este pensar e viver... Este viver o pensar... Eu gostaria que vocês de colocar uma música para vocês ... E a medida que vocês forem nesta dança, com a melodia desfrutando desta alegria, ouvindo a música... Despertando aquelas células que o ajudarão a realizar aquelas mudanças, aqueles objetivos que são tão importantes para você... Vocês podem no seu tempo, no seu ritmo, ir se reinventando, se reorientando, voltando para cá... Trazendo com vocês as sensações que quiserem...

Me vejo no que vejo...


 (Excerto do Poema Blanco de Octavio Paz cantado por Marisa Monte)

E para finalizar... Feliz de poder ter estado aqui com vocês... Eu peço que cada um resuma esta experiência em uma palavra...

(Cada um dos participantes disse uma palavra, mas só me lembro a palavra do Zeig: Feminine)

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